Home

 

Mapa do Salmo, autor desconhecido, British Library, data 1225-1250

CREDO QUIA ABSURDUM  (creio, mesmo que seja absurdo)

Parte 1 de 2

Esta afirmação do apologista cristão Tertuliano demonstra a exigência de submissão incondicional aos dogmas da Igreja Católica. Foi dita no século II, mas permanece atual 1.900 anos depois. A religiosidade foi um fator de grave influência na evolução humana e os mapas foram fortemente marcados pelo catolicismo, principalmente pela nova bíblia.

Entre os séculos II e VI os mapas-múndi passaram a ser apresentados de forma diferente, redefinidos de acordo com o Cristianismo. A Bíblia passou a ser o padrão para a reinterpretação da história e do mundo, e os mapas tiveram que obedecer à descrição do Gênesis, que dividiu o mundo - Ásia, Europa e África - entre os três filhos de Noé. Mas de onde, afinal surgiu este livro que tantas religiões alegam ser "a palavra de Deus" e que tomou o lugar da ciência durante tantos séculos?

EM NOME DE DEUS, MAS SEM FIRMA RECONHECIDA

Para entender como a bíblia atual foi montada e como se deu sua influência na cartografia, é preciso saber a origem da Igreja Católica. A própria concepção de "igreja", na época de Jesus, não era a que temos hoje, com templos suntuosos e estrutura hierarquizada. Os seguidores da doutrina de Jesus, originalmente, eram humildes como o nazareno e se reuniam em casas particulares onde liam cartas e mensagens dos apóstolos e trocavam idéias. Uma versão pioneira do "culto no lar".

A rica e poderosa organização religiosa multinacional que é hoje a Igreja Católica começou a ser planejada em 313 d.C. Nesta época, com o grande avanço da "Religião do Carpinteiro", o imperador Constantino Magno enfrentava problemas para manipular o povo romano, dividido entre pagãos e cristãos. Vendo que em médio prazo os cristãos seriam maioria, o imperador traçou a estratégia de unificar ambas as crenças sob a égide de uma nova religião, cujo controle, evidentemente, seria dele. Sua primeira providência foi declarar-se "convertido" ao cristianismo e dois anos depois convocar uma reunião com as maiores lideranças religiosas e políticas, para estruturar as bases da nova doutrina.

Foi então que, em 325, reuniu-se o Concílio de Nicéia, na Turquia, presidido pelo imperador Constantino e composto por 300 "bispos" por ele nomeados. Tal concílio consagrou oficialmente a designação "católica" aplicada à igreja organizada por Constantino e montou uma nova versão da Bíblia. Nos anos seguintes, os cristãos verdadeiros, seguidores dos apóstolos, foram se dispersando e o cristianismo original desapareceu. O plano de Constantino teve êxito.

Uma das primeiras tarefas dos bispos era realmente curiosa: definir se Jesus era a primeira e mais nobre criatura de Deus (Arianismo) ou se ele era o próprio Deus, feito da mesma substância. Esta última condição prevaleceu, mas não sem a discordância de grande parte dos presentes, que por causa disso foram perseguidos e posteriormente punidos por Constantino, cujos planos necessitavam de uma nova "divindade" - Jesus - para se opor ao próprio Jeová dos Hebreus, ao Buda, aos poderosos deuses do Olimpo.

O Cristianismo passou a ser a religião oficial do Império Romano, na sua forma mais adulterada. Tornou-se instituição, criaram-se profissionais da religião, adotaram-se simbolismos pagãos e criaram-se ritos e rezas, ofícios e oficiantes. Uma complexa estrutura teológica foi montada para atender às pretensões absolutistas da casta sacerdotal dominante, que se impunha aos fiéis com a draconiana afirmação: "Fora da Igreja não há salvação".

Quando Constantino morreu, em 337, foi homenageado e enterrado como o "13º Apóstolo". Foi, de fato, o primeiro papa católico.  ( continua.... )

 
Celso Serqueira