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Caminhos do Ouro no século XVIII

PASSEANDO NAS ESTRADAS REAIS  [1]

Começamos hoje uma série sobre os primeiros caminhos para o interior do Brasil. O grande desafio era vencer os enormes paredões de rocha das serras do Mar e da Mantiqueira, aventura que inspirou o romance histórico "A Muralha", de Dinah Silveira de Queiroz. 


O Brasil, antes desses caminhos, não existia como unidade geopolítica e administrativa. Havia apenas algumas feitorias no litoral explorando açúcar e outros esparsos núcleos urbanos na Bahia, Pernambuco e São Paulo. Era preciso buscar no interior a riqueza que o litoral não oferecia - ouro e diamantes. 

O esboço acima mostra os principais caminhos utilizados desde a descoberta do Brasil por índios, escravos, colonizadores e até por nós, já que alguns percursos se transformaram em leitos ferroviários ou rodovias como a BR-040, Via Dutra, Via Anchieta, etc. Veja o resumo do que vamos apresentar:

Caminho de Paranapiacaba (traçado laranja no mapa)

Também chamado de Trilha dos Goianases ou dos Tupiniquins ou Caminho de Piaçagüera, foi construído pelos índios em tempos remotos e percorrido por Martim Afonso em 1532. Primeira ligação entre o litoral (São Vicente) e o topo da serra (São Paulo). Tem como variantes o Caminho do Padre José de Anchieta, a Calçada de Lorena, a Estrada da Maioridade e o Caminho do Mar.

Caminho de São Paulo (traçado lilás)

Antiga trilha dos índios guaianazes, começava em Jundiaí, passava por São Paulo e chegava em Guaratinguetá, de onde se podia ir a Paraty, ao Rio de Janeiro e a Minas Gerais. Durante 300 anos, Guaratinguetá foi o maior entroncamento viário do Brasil.

Caminho Velho (traçado vermelho)

A maior (1.200 quilômetros), a mais antiga e a mais utilizada das vias do Brasil, ganhou enorme importância a partir da descoberta do ouro na região das minas no fim do século XVII. Era o caminho oficial para a entrada de escravos nas fazendas e o escoamento do ouro das minas, que era embarcado em Paraty para o Rio, e daí para Portugal. Eram 95 dias de viagem, sendo 43 a pé, para cumprir o seu trajeto integral, do Rio até Diamantina .

Caminho da Calçada (traçado azul claro)

Também conhecido como Caminho da Independência, por ter sido utilizado por D. Pedro I no retorno da proclamação às margens do rio Ipiranga, ligava o Rio de Janeiro à Guaratinguetá, de onde se tomava o rumo de São Paulo ou Diamantina. Este caminho foi mandado construir pelo governo colonial em 1724.

Caminho Marítimo de Paraty (traçado azul escuro)

Via usada até meados do século 18 entre o Rio e Paraty, seguia por terra ao porto de Sepetiba e daí pelo mar até Paraty. Prosseguindo por terra, em Guaratinguetá havia a bifurcação para São Paulo e Minas. 

Caminho Novo (traçado marrom claro)

Aberto pelo bandeirante Garcia Paes, em 1707, como alternativa mais curta ao Caminho Velho: começava no fundo da Baía de Guanabara, subia o rio Iguassú até o porto de Pilar (Caxias) e atravessava a serra da vila de Xerém em direção a Paraíba do Sul. Encontrava o Caminho Velho em Ouro Branco e nele seguia até Diamantina. 

Caminho Novo, Alternativa (traçado marrom escuro)

Em 1724, Bernardo Soares de Proença criou uma trilha ainda mais curta e menos íngreme. Essa variante começava noutro ponto da Baía de Guanabara, o Porto Estrela. Seguia o Rio Inhomirim, o Rio Piabanha no alto da Serra da Estrela, passava por onde hoje está Petrópolis, Corrêas, Itaipava, até encontrar o Caminho Novo em Paraíba do Sul. A cidade de Petrópolis existe graças a esta trilha.

Nas próximas postagens, veremos mapas antigos das regiões das estradas reais, histórias interessantes sobre elas e documentos raros descrevendo as viagens - verdadeiro trekking histórico.

(Obs.: Por limitação do tamanho de imagem, o mapa acima deixa de mostrar o trecho de Ouro Preto a Sabará e Diamantina)

(continua...)

Celso Serqueira  e-mail do autor