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Carta da Viação Férrea do Brasil - Ernesto A. Lassance Cunha, 1910

TUNGUSKA BRASILEIRA

Como já escrevemos sobre a "Stonehenge Amazônica", nada mais coerente que trazer hoje a vocês a pouco conhecida história da Cratera Curuçá no Alto Solimões ou, simplesmente, "Tunguska Brasileira". 

Para entender a nossa história de hoje, devemos recordar um pouquinho de ciência: várias toneladas de matéria espacial caem por dia na Terra, desde invisíveis partículas micrométricas a corpos maiores que são consumidos pela fricção atmosférica e que chamamos romanticamente de estrelas cadentes. 

Os meteoritos que medem mais de 50 metros não são totalmente consumidos pelo calor do atrito com o ar e chegam ao solo - ou explodem pouco acima dele - com toda a energia cinética original decorrente do seu tamanho e da grande velocidade desenvolvida na queda. 

O céu em queda

Há 65 milhões de anos, um asteróide com diâmetro de cerca de 15 quilômetros (equivalente a 20 vezes a Pedra da Gávea, do Rio de Janeiro) esborrachou-se sobre a Península de Yucatán, no México, a 20 km por segundo. O choque liberou energia equivalente a 100 milhões de megatons, equivalente à explosão de bilhões de bombas de Hiroshima. No lugar do impacto abriu-se uma cratera de 170 quilômetros de extensão. Foi quase um apocalipse.

Em 30 de junho de 1908, próximo ao Rio Tunguska, na Sibéria, um asteróide com cerca de 50 metros de diâmetro explodiu a oito quilômetros de altura. A energia liberada foi equivalente a 300 bombas de Hiroshima e arrasou uma área de 2.150 quilômetros quadrados. A explosão foi vista a 500 quilômetros de distância e a poeira levantada foi observada até do outro lado do mundo, na Califórnia, EUA.

A floresta treme

Na manhã de 13 de agosto de 1930, no Vale do Javari, em plena selva amazônica, perto da fronteira com o Peru, habitantes ao longo do Rio Curuçá viram o céu ficar avermelhado: logo formou-se uma chuva de poeira, seguida pelo som assobiado de bólidos vindo do céu. Três meteoritos explodiram pouco acima do solo e fizeram a terra tremer; o estrondo foi ouvido a mais de 100 quilômetros, na cidade de Tabatinga.

O impacto atingiu 5 megatons e abriu uma cratera com um quilômetro de diâmetro. Segundo pesquisadores, os meteoritos provavelmente eram pedaços caídos na passagem do cometa P/Swift Tuttle, que produz o fenômeno astronômico anual conhecido por Chuva das Perseidas.

Graças ao monge

O curioso é que a Cratera Curuçá, como tornou-se conhecido o local do impacto, ficou esquecida por mais de meio século. Foram os russos que chamaram a atenção do astrônomo inglês M. E. Bailey para o acidente brasileiro, em 1995. Pesquisando nos arquivos do Vaticano, o cientista encontrou um jornal de 1931 com o relato detalhado da queda dos meteoritos feito por um monge capuchinho que estivera em missão religiosa na Amazônia por aqueles dias. Outra referência partiu do Observatório Sismológico San Calixto, em La Paz, que registrou ecos do tremor na Bolívia.

Logo depois, estudiosos brasileiros com auxílio de localizador GPS, mapeamento em infravermelho por satélite e fotografias aéreas, conseguiram localizar a cratera (latitude 5° S, longitude 71.5° W , Região do Alto Solimões) e, em 1997, foi realizada a expedição ao local. Uma curiosidade foi a descoberta das únicas "pedras" do Amazonas, que na verdade eram pedaços de argila compactada pela força da explosão (nota: considera-se que no Amazonas não existem pedras, só argila e arenitos).

A cratera e o material colhido em sua borda continuam sendo estudados por especialistas. Segundo eles, o Tunguska Brasileiro, tal como foi chamado por Bailey, é uma das quedas cósmicas mais importantes do século 20.

Recentemente, a TV Globo noticiou outro acidente cósmico na Amazônia:

Meteoritos podem ter deixado crateras em Rondônia

RIO (17/03/2007) - Objetos não identificados caíram numa região do leste de Rondônia e abriram três enormes crateras com mais de 50 metros de diâmetro cada. Moradores contam que, primeiro, viram riscos no céu. Depois, ouviram um enorme estrondo. O impacto arrancou árvores e causou rachaduras num raio de 300 metros quadrados

Em pouco mais de uma semana, a vegetação da Floresta Amazônica cresceu e cobriu parte das crateras. Só o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais pode comprovar se teriam sido partes de um meteorito que se desfragmentou ao entrar na atmosfera terrestre.

Veja também a descoberta recente, na Amazônia, de:

- Lago Parime, em cujas margens ficava a lendária cidade de ouro "El Dorado": http://serqueira.com.br/mapas/eldorado.htm 

- Stonehenge Brasileira, templo de pedra no Amapá semelhante aos dos druidas: http://serqueira.com.br/mapas/amapa.htm 
Celso Serqueira