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Mapa da Floresta da Tijuca, CCN - 1966

FLORESTA DA TIJUCA

Maior floresta urbana do mundo com seus 3.200 hectares no Centro do Rio de Janeiro, a Floresta da Tijuca é um lugar de turismo, passeio e prática esportiva, com exuberantes matas, trilhas, cachoeiras, grutas e picos. Foi criada em 1861 e integra o Parque Nacional da Tijuca, com a Serra da Carioca e o Maciço da Gávea.

Sem qualquer propósito turístico ou de lazer, a criação da Floresta ocorreu devido ao grave problema de abastecimento de água na cidade, cuja população se expandia rapidamente pelos morros e baixadas no correr do século 19. 

Desde o tempo da Colônia e até o fim do Império, o Rio era abastecido com a água dos mananciais das montanhas, cujos cursos eram canalizados para pontos onde se instalavam torneiras e chafarizes. Só em meados da década de 1870 passou-se a planejar reservatórios e adutoras.

Das matas do Corcovado vinha o Rio Carioca que, canalizado, atravessava o aqueduto de mesmo nome (hoje Arcos da Lapa) e abastecia a população pelo chafariz do Largo da Carioca. O fornecimento, entretanto, a cada ano tornava-se mais deficiente.

Café x água

Em 1844, após vários anos de secas dramáticas na cidade, foi decidida a canalização do Rio Maracanã, na Tijuca, que só foi realizada 10 anos depois por causa da resistência à desapropriação de terrenos. O problema era grave: para a população de 400 mil pessoas, necessitando de 60 milhões de litros d'água por dia, os encanamentos da cidade produziam apenas oito milhões.

Os problemas começaram com a chegada do café ao Rio de Janeiro em 1760. Nos arredores do Rio e principalmente na Tijuca, lugar predileto para os cafezais, derrubava-se a mata furiosamente para plantar mais e mais cafeeiros nos morros e encostas pelados. 

Além disso, havia intensa extração de madeira para o comércio de lenha e carvão, combustíveis que tiveram sua demanda muito aumentada com o progresso proporcionado pela chegada da família imperial ao Brasil. As terras da Floresta da Tijuca estavam devastadas.

Já naquele tempo sabia-se que o desmatamento das margens e nascentes prejudica os rios e, como a água continuasse escassa, em 1817 o governo regulou a extração vegetal visando proteger os mananciais. Na verdade, nunca faltaram medidas preventivas e punitivas por parte do governo - e é fato, também, que essas determinações nem sempre eram cumpridas, porque o café da Tijuca rendia gordos impostos ao Tesouro.

Começa o reflorestamento

Embora algumas pequenas áreas desapropriadas estivessem em reflorestamento desde 1800, somente com a designação do major e engenheiro Manuel Archer como administrador da Tijuca a revitalização avançou. Em janeiro de 1862, ele iniciou o reflorestamento em larga escala, buscando mudas de árvores nativas em fazendas vizinhas, nas Paineiras, em Jacarepaguá e nas matas virgens de Guaratiba, no litoral sul da cidade. 

O trabalho hercúleo de Archer consagrou o Brasil como o primeiro país a implantar a silvicultura com espécies mistas. Ao fim do primeiro ano, ele havia replantado 13.613 mudas nas encostas da Tijuca; em 1868, já eram 29.500 árvores de madeira de lei e até 1871, Archer fez crescerem 45.777 espécies.

Em 1874, com um saldo de mais de 100 mil árvores plantadas e apenas 19 homens a seu serviço, Archer manda uma carta ao governo imperial pedindo mais 11 trabalhadores e um salário justo para a equipe: "Hoje que um simples servente de obras ganha 2$800 réis por dia, não é sem repugnância que tenho conseguido mantê-los neste serviço pelo diminuto jornal de 1$500 réis." 

Como não houve aumento, novos empregados e nem resposta, Archer pediu exoneração e foi desempenhar o papel de herói noutras plagas, reflorestando Petrópolis.Para o lugar dele na administração da Floresta da Tijuca foi designado o barão Gastão Luís Henrique de Robert de Escragnolle, filho dos Condes de Escragnolle, que debandaram da França e vieram para o Brasil com a família real. 

Escragnolle prosseguiu no reflorestamento, mas seu maior mérito foi ter dado um toque artístico e de embelezamento ao lugar, ajardinando córregos, enfeitando grutas e abrindo mirantes para panoramas deslumbrantes. Morreu no cargo, em 1888, e foi substituído pelo paisagista e botânico francês Glaziou, autor dos projetos de remodelação da Quinta da Boa Vista, Passeio Público e Campo de Santana.

O milagre da água

O reflorestamento aumentou o volume dos rios Carioca e Maracanã, mas não o suficiente para saciar toda a população carioca. A solução só veio em 16 de março de 1889, quando, no auge de uma seca das mais rigorosas, o governo imperial contratou o engenheiro Paulo de Frontin para realizar obras emergenciais.

A proposta, melhor dizendo, o desafio era Frontin fornecer no mínimo 13 milhões de litros d'água diários aos cariocas - o equivalente a dobrar o abastecimento da época. O inusitado era o prazo para realizar a proeza: apenas seis dias.

O governo entregou 90 coroas ao engenheiro para as despesas iniciais da obra e indenizações pelas desapropriações necessárias na Cachoeira da Serra Velha e cabeceiras do Rio São Pedro, no Tinguá (interior do estado, próximo à Baixada Fluminense). Embora ninguém acreditasse no êxito da empreitada, eis que Paulo de Frontin surpreende o mundo e realiza o que ficou conhecido como o "Milagre da Água": cumpriu o contrato e abasteceu a cidade no tempo recorde de seis dias!

Capricho de tijucano

Voltando a nosso tema, nessa altura havia acontecido a Proclamação da República e, sob o novo regime, a Floresta da Tijuca ficou totalmente abandonada por quase meio século. A redescoberta desse paraíso no coração da capital ocorreu em 1943, na gestão do prefeito Henrique Dodsworth, que designou o industrial Raimundo de Castro Maia para dirigir os trabalhos de sua remodelação.

Apaixonado pela Tijuca, onde nasceu e se criou, Raimundo transformou o local num parque agradável que passou a ser freqüentado pela população e por turistas brasileiros e estrangeiros. Curiosamente, o caprichoso Raimundo trabalhava pela quantia simbólica de Cr$1,00 por ano. Quando deixou a Floresta da Tijuca, em 1947, havia legado à cidade um novo e deslumbrante ponto turístico.

Desde então, houve ocasiões de maior ou menor cuidado do poder público com o lugar, que continua razoavelmente conservado, embora sob a constante ameaça de invasões de terras e o risco de assaltos e vandalismo, principalmente à noite. Coisas dos tempos "modernos".

Tijuca era a Barra

Nos idos de 1800, tanto o Andaraí como a Tijuca (bairro) eram designados pelo nome do primeiro. Havia um Andaraí Grande e outro Pequeno. O primeiro compreendia a região que ainda hoje conserva o mesmo nome. O Andaraí Pequeno começava na altura do Largo da Fábrica das Chitas (atual Praça Saenz Peña) e ia até a raiz da Serra da Tijuca. A Rua Conde de Bonfim chamava-se então rua do Andaraí Pequeno. A palavra Andaraí é de origem tupi e significa (andirá-y) Rio dos Morcegos.

Como Tijuca (também do tupi, ty-yca - brejo, charco, lama) entendia-se exclusivamente a parte baixa da região que hoje conhecemos por Barra da Tijuca, o que, aliás, está toponimicamente de acordo com a etimologia da palavra, numa alusão às lagoas e charcos (mangues) que ali existem ou existiram.

Celso Serqueira  e-mail do autor

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