FLORESTA DA TIJUCA
Maior floresta urbana do mundo com seus 3.200 hectares no Centro do Rio de Janeiro, a Floresta da Tijuca é
um lugar de turismo, passeio e prática esportiva, com exuberantes matas, trilhas, cachoeiras, grutas e picos. Foi criada em 1861 e integra o Parque
Nacional da Tijuca, com a Serra da Carioca e o Maciço da Gávea. Sem qualquer propósito turístico ou de lazer, a criação da Floresta ocorreu devido ao grave problema de abastecimento de água na
cidade, cuja população se expandia rapidamente pelos morros e baixadas no correr do século 19. Desde o tempo da Colônia e até o fim do Império, o Rio era abastecido com a água
dos mananciais das montanhas, cujos cursos eram canalizados para pontos onde se instalavam torneiras e chafarizes. Só em meados da década de 1870
passou-se a planejar reservatórios e adutoras. Das
matas do Corcovado vinha o Rio Carioca que, canalizado, atravessava o aqueduto de mesmo nome (hoje Arcos da Lapa) e abastecia a população pelo
chafariz do Largo da Carioca. O fornecimento, entretanto, a cada ano tornava-se mais deficiente. Café x água Em 1844, após vários anos de secas dramáticas na cidade, foi decidida a
canalização do Rio Maracanã, na Tijuca, que só foi realizada 10 anos depois por causa da resistência à desapropriação de terrenos. O problema era
grave: para a população de 400 mil pessoas, necessitando de 60 milhões de litros d'água por dia, os encanamentos da cidade produziam apenas oito
milhões. Os problemas começaram com a chegada do café
ao Rio de Janeiro em 1760. Nos arredores do Rio e principalmente na Tijuca, lugar predileto para os cafezais, derrubava-se a mata furiosamente para
plantar mais e mais cafeeiros nos morros e encostas pelados. Além disso, havia intensa extração de madeira para o comércio de lenha e carvão, combustíveis que tiveram sua demanda muito aumentada
com o progresso proporcionado pela chegada da família imperial ao Brasil. As terras da Floresta da Tijuca estavam devastadas.
Já naquele tempo
sabia-se que o desmatamento das margens e nascentes prejudica os rios e, como a água continuasse escassa, em 1817 o governo regulou a extração vegetal
visando proteger os mananciais. Na verdade, nunca faltaram medidas preventivas e punitivas por parte do governo - e é fato, também, que essas
determinações nem sempre eram cumpridas, porque o café da Tijuca rendia gordos impostos ao Tesouro. Começa o reflorestamento Embora algumas pequenas áreas desapropriadas estivessem em reflorestamento desde
1800, somente com a designação do major e engenheiro Manuel Archer como administrador da Tijuca a revitalização avançou. Em janeiro de 1862, ele
iniciou o reflorestamento em larga escala, buscando mudas de árvores nativas em fazendas vizinhas, nas Paineiras, em Jacarepaguá e nas matas virgens
de Guaratiba, no litoral sul da cidade. O trabalho
hercúleo de Archer consagrou o Brasil como o primeiro país a implantar a silvicultura com espécies mistas. Ao fim do primeiro ano, ele havia
replantado 13.613 mudas nas encostas da Tijuca; em 1868, já eram 29.500 árvores de madeira de lei e até 1871, Archer fez crescerem 45.777
espécies.
Em 1874, com um saldo de mais de 100 mil árvores plantadas e apenas 19 homens a seu serviço, Archer manda uma carta ao governo
imperial pedindo mais 11 trabalhadores e um salário justo para a equipe: "Hoje que um simples servente de obras ganha 2$800 réis por dia, não é sem
repugnância que tenho conseguido mantê-los neste serviço pelo diminuto jornal de 1$500 réis." Como não houve aumento, novos empregados e nem resposta, Archer pediu
exoneração e foi desempenhar o papel de herói noutras plagas, reflorestando Petrópolis.Para o lugar dele na administração da Floresta da Tijuca foi
designado o barão Gastão Luís Henrique de Robert de Escragnolle, filho dos Condes de Escragnolle, que debandaram da França e vieram para o Brasil com
a família real.
Escragnolle prosseguiu no reflorestamento, mas seu maior mérito foi ter dado um toque artístico e de embelezamento ao lugar,
ajardinando córregos, enfeitando grutas e abrindo mirantes para panoramas deslumbrantes. Morreu no cargo, em 1888, e foi substituído pelo paisagista e
botânico francês Glaziou, autor dos projetos de remodelação da Quinta da Boa Vista, Passeio Público e Campo de Santana.
O milagre da
água O reflorestamento aumentou o volume dos rios Carioca e Maracanã, mas não o suficiente para saciar toda a população carioca. A
solução só veio em 16 de março de 1889, quando, no auge de uma seca das mais rigorosas, o governo imperial contratou o engenheiro Paulo de Frontin
para realizar obras emergenciais.
A proposta, melhor dizendo, o desafio era Frontin fornecer no mínimo 13 milhões de litros d'água diários aos
cariocas - o equivalente a dobrar o abastecimento da época. O inusitado era o prazo para realizar a proeza: apenas seis dias.
O governo
entregou 90 coroas ao engenheiro para as despesas iniciais da obra e indenizações pelas desapropriações necessárias na Cachoeira da Serra Velha e
cabeceiras do Rio São Pedro, no Tinguá (interior do estado, próximo à Baixada Fluminense). Embora ninguém acreditasse no êxito da empreitada, eis que
Paulo de Frontin surpreende o mundo e realiza o que ficou conhecido como o "Milagre da Água": cumpriu o contrato e abasteceu a cidade no tempo recorde
de seis dias!
Capricho de tijucano
Voltando a nosso tema, nessa altura havia acontecido a Proclamação da República e, sob o
novo regime, a Floresta da Tijuca ficou totalmente abandonada por quase meio século. A redescoberta desse paraíso no coração da capital ocorreu em
1943, na gestão do prefeito Henrique Dodsworth, que designou o industrial Raimundo de Castro Maia para dirigir os trabalhos de sua remodelação.
Apaixonado pela Tijuca, onde nasceu e se criou, Raimundo transformou o local num parque agradável que passou a ser freqüentado pela população e
por turistas brasileiros e estrangeiros. Curiosamente, o caprichoso Raimundo trabalhava pela quantia simbólica de Cr$1,00 por ano. Quando deixou a
Floresta da Tijuca, em 1947, havia legado à cidade um novo e deslumbrante ponto turístico.
Desde então, houve ocasiões de maior ou menor
cuidado do poder público com o lugar, que continua razoavelmente conservado, embora sob a constante ameaça de invasões de terras e o risco de assaltos
e vandalismo, principalmente à noite. Coisas dos tempos "modernos".
Tijuca era a Barra
Nos idos de 1800, tanto o Andaraí como a
Tijuca (bairro) eram designados pelo nome do primeiro. Havia um Andaraí Grande e outro Pequeno. O primeiro compreendia a região que ainda hoje
conserva o mesmo nome. O Andaraí Pequeno começava na altura do Largo da Fábrica das Chitas (atual Praça Saenz Peña) e ia até a raiz da Serra da
Tijuca. A Rua Conde de Bonfim chamava-se então rua do Andaraí Pequeno. A palavra Andaraí é de origem tupi e significa (andirá-y) Rio dos Morcegos.
Como Tijuca (também do tupi, ty-yca - brejo, charco, lama) entendia-se exclusivamente a parte baixa da região que hoje conhecemos por Barra da
Tijuca, o que, aliás, está toponimicamente de acordo com a etimologia da palavra, numa alusão às lagoas e charcos (mangues) que ali existem ou
existiram. Celso Serqueira | |
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