Profeta Gentileza vestido como andava pelas ruas da cidade (esq) e

escrevendo o 'Livro Urbano' nas pilastras do Viaduto do Gasômetro, no Rio

O SANTO QUE O RIO ESQUECEU

No dia 11 de abril, deixamos os mapas para comemorarmos o aniversário do saudoso Profeta Gentileza, um brasileiro bem-sucedido que largou tudo e foi para o meio do povo pregar a honestidade, o amor e a paz, no Rio de Janeiro.

"SOU LOUCO É PARA TE AMAR!"

O mundo ficou chocado: o incêndio do Gran Circus Norte-Americano em Niterói no dia 17 de dezembro de 1961 deixou mais de 400 mortos, a maioria crianças. O empresário José Daltrino, com 44 anos, não suportou ver tanto sofrimento e foi para o local consolar as pessoas e ajudar no que pudesse. Neste momento desaparecia o homem para surgir o profeta. O Profeta Gentileza.

Muitos cariocas se lembram daquela figura singular de cabelos longos, barbas brancas, vestindo uma bata branca com apliques cheios de mensagens e levando na mão um estandarte com dizeres em vermelho. Durante 35 anos percorreu toda a cidade, viajou nas barcas Rio-Niterói, entrou nos trens e ônibus para fazer a sua pregação e oferecer flores a todas as pessoas. Seu lema era "gentileza gera gentileza".

O Profeta pintou as 55 pilastras do movimentado Viaduto do Gasômetro com inscrições propondo sua crítica do mundo e sua alternativa ao mal-estar de nossa civilização. Foi pioneiro em denunciar ameaças à natureza e pregou o "AMORRR" (ele tinha um modo peculiar de escrever) e a gentileza como salvação do mundo. 

Após sua morte em 1996, os textos foram cobertos de tinta cinza por ordem da prefeitura, o que gerou protestos da população. Hoje, recuperado pela Universidade Federal Fluminense e registrado em CD-Rom, o grafismo do Profeta Gentileza é patrimônio artístico-cultural do Rio de Janeiro. 

Gentileza tinha sua própria linguagem, por exemplo, o capitalismo (tido por ele como o mal do mundo) era chamado de "capeta-lismo". Aos que o chamavam de louco, respondia: "Sou louco para te amar e maluco para te salvar". E se um incauto tentava lhe dar esmola, ele a recusava, sorrindo: "Eu não quero seu dinheiro, meu filho, quero muito mais: quero seu espírito para Deus".

Que no aniversário do Profeta a gente possa lembrá-lo praticando um pouco de gentileza e tornando o mundo mais humano, a vida mais leve. Vale tudo: um elogio, um sorriso, um cumprimento, um agradecimento, uma atitude! 

Deixo para vocês uma das suas frases prediletas, plena de bom humor e percepção crítica: "O padre tá esmolando, o pastor tá pastando e o papa está papando; é um papão!" Profeta Gentileza (1917 - 1996). 

Parabéns pra você, Profeta!

Veja fotos do incêndio do circo no site do Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense:
http://www.historia.uff.br/labhoi/image/tid/76

Celso Serqueira e-mail do autor

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