Mapa com relevo da Serra das Araras, indicando São João Marcos, concepção de 1882

 Eduardo Canabrava Barreiros

A HISTÓRIA SUBMERSA DA REPRESA DE LAJES

Criada em 1733, São João Marcos atingiu o auge da prosperidade no século seguinte, com a expansão da cultura cafeeira fluminense. O padrão de vida elevado e os recursos investidos em educação, cultura e bem-estar justificavam a adoção do termo "barão" para designar os refinados latifundiários fluminenses, em oposição aos "coronéis", como eram chamados os fazendeiros do resto do País  (poderosos porém truculentos, sem polimento social).

Parte 2 - O começo do fim

Em 1854, Irineu Evangelista de Souza inaugurou a primeira ferrovia do Brasil, ligando Mauá a Raiz da Serra, no fundo da Baía de Guanabara. A proliferação dos trens causou a decadência de muitas vilas e povoados, já que a preferência geral passou para o transporte ferroviário, mais rápido e seguro que os lombos de burro, pequenas embarcações e carroças antes utilizadas. São João Marcos não ficou imune à queda no movimento de tropeiros pelo caminho velho (que vinha de São Paulo) e acusou uma grave perda no comércio.

Mas o infortúnio não costuma andar desacompanhado: além de vir apresentando queda de rendimento em decorrência do esgotamento das terras, a produção cafeeira fluminense sofreu outro golpe em 1889, com a abolição da escravidão. Os fazendeiros não conseguiram suprir a necessidade de grandes contingentes humanos para trabalhar nas plantações e a produção caiu a níveis desastrosos. Enquanto isso, os agricultores do Oeste Paulista, com lavouras mais recentes e contando com lavradores assalariados, meeiros e imigrantes, assumiram a liderança do mercado rapidamente.

A situação estava péssima para a cidade. Com a decadência da cultura cafeeira fluminense e o desenvolvimento dos novos meios de transporte, São João Marcos foi perdendo importância e sua população ficou reduzida a pouco mais de 7 mil pessoas no início do século 20. 

Resistindo bravamente à decadência, a população e autoridades de São João Marcos tentaram se adaptar aos novos tempos e apoiaram o que seria a grande esperança de recuperação da economia local: a construção da Estrada de Ferro entre Barra Mansa e Angra dos Reis. Realmente, a ferrovia trouxe de volta o antigo ar de prosperidade e novas possibilidades começavam a ser desenhadas para o futuro de São João Marcos.

Enquanto isso, a menos de 100 quilômetros dali, a cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, se desenvolvia aceleradamente, o mesmo acontecendo com os municípios vizinhos. Era o ano de 1907, a população aumentava e a ordem era transformar a capital numa metrópole moderna, orgulho da república. A grande questão era onde conseguir as fontes dos recursos exigidos pelo progresso, como energia elétrica e água potável encanada, por exemplo. 

A solução já estava em mãos dos engenheiros da Light (cia. de eletricidade do Rio), que havia dois anos estudavam as possibilidades para suprir a crescente demanda. E a melhor opção, segundo eles, era criar uma represa e uma hidrelétrica no Ribeirão das Lajes, no alto da Serra das Araras. Só tinha um probleminha: 97 grandes fazendas iriam ficar debaixo d'água. Justamente as maiores propriedades da área rural de São João Marcos.

(continua...)
Celso Serqueira e-mail do autor

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