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Mappa de Toda a Extenção da Campanha feixada pelo Rio Grande e pelos 

registros que limitão a Capitania de Minas - autor desconhecido, prov. séc. 18

UM TESOURO DE MAPA

Visitava o Museu do Sul de Minas, na histórica e bela cidade de Campanha, quando vi um mapinha discretamente pendurado na parede. Por força do hábito e do gosto, detive-me para examinar o documento e - surpresa! - trata-se de uma preciosa cópia feita à mão, em 1950, de um original no Arquivo Histórico Colonial de Lisboa, já extinto. Provavelmente, este documento que vocês observam em primeira mão é desconhecido dos pesquisadores e inédito na web mundial. 

Pela categoria das cidades (vilas, freguesias, paróquias), tipo de representação cartográfica e situação geográfica, dá para estimar que o original deste mapa do Sul de Minas foi desenhado ao final do século 18. Poucos mapas mineiros desse século chegaram aos dias atuais devido à proibição, pela Coroa, de indicar os caminhos que levavam às minas de ouro. A desobediência era punida com a morte.

Estrada Real

Dentre as muitas informações que este documento nos oferece, sobressai o emaranhado de caminhos entre as cidades, legendados com indicação das distâncias em léguas (1 légua = 6,6 km). Vê-se que praticamente todos eles levam à São João Del Rei (e dali a Ouro Preto, Sabará e Diamantina), o que reforça a tese de que a famosa Estrada Real não era uma via única, mas um conjunto de caminhos que se unificavam rumo às minas ao norte. 

Ora, então, todas as cidades mineiras abaixo do Rio Grande podem considerar-se integrantes do que seria mais acertado denominar de "malha viária real" - o caminho dependia do ponto de partida ou de destino do viajante e incluía as minas do Rio Verde, entre outras. 

A "Estrada Real" com princípio, meio e fim, conforme está convencionada atualmente, atende mais aos interesses políticos regionais e ao turismo do que à precisão histórica. Reparem que o documento aponta vários registros (postos de cobrança de tributos, principalmente sobre ouro), indicando a multiplicidade dos caminhos "reais".

Briga dos Bispados

O documento é demasiadamente farto de informações para este pequeno espaço. Então, vou ressaltar apenas mais um aspecto que, certamente, foi o motivo para elaboração do mapa: a divisão dos bispados mineiro e paulista que, mais que uma rivalidade pelos rebanhos de fiéis, refletia a disputa ferrenha entre os atuais estados de São Paulo e Minas Gerais pelas terras e ouro do sul mineiro. 

Ora o território pertencia a um, ora a outro. Em 1755, era paulista, em 1764, mineiro, e em 1775, retornava ao Bispado de São Paulo, criando uma situação esdrúxula: a região era governada, no civil, por Minas Gerais e no eclesiástico, pela diocese de São Paulo. 

Em 1778, prosseguia a discussão sobre os limites acima da Serra da Mantiqueira, e o nosso mapa deve ter sido feito nessa época. Ele mostra que o Bispado de São Paulo estava mandando em Minas Gerais, até a margem esquerda do Rio Sapucaí, onde - ó, santa coincidência! - havia ouro em abundância, descoberto pelo paulista José Pires Monteiro. Veja o mapa ampliado em: http://serqueira.com.br/map/cmp.html

Texto no verso do mapa

A pedido de S. Exa. ReVma. o Senhor D. Hugo Bressane de Araújo, Bispo de Guaxupé, feito por intermédio da Senhora D. Isabel Sangareau Fonseca, em carta de 3-XI-949, declaro que este fac-símile foi executado por esta Senhora em face do original existente no Arquivo Histórico Colonial.

Lisboa, 4 de Janeiro de 1950

Alberto Frias

Nossos agradecimentos a Luciano Alves, do Museu Regional do Sul de Minas, pela cessão do documento e a Eduardo Bertoni pela reprodução fotográfica.

Celso Serqueira