De regnis Septentrion, Monftra marina & terreftria, quae pafsim in partibus

 aquilonis inueniuntur/ Cosmographia - Sebastian Munster, 1544

MONSTROS MARINHOS À SOLTA!

Tidas até recentemente como produto da imaginação fértil dos cartógrafos na baixa Idade Média, as cartas marítimas indicando oceanos repletos de enormes monstros podiam estar mais próximas da realidade do que se supõe.

Para chegar a esta conclusão, deve-se levar em conta que os mares, há 500 ou mais anos, tinham uma proliferação de vida bem diferente de hoje, quando muitas espécies estão extintas. Havia mais espécies, em maior número e tamanho superior porque não eram caçadas indiscriminadamente como foram nos últimos séculos. 

Baleias, um grande problema

As baleias, por exemplo, viviam o suficiente para atingir proporções descomunais. A Baía de Guanabara, onde hoje mal se pesca uma minúscula cocoroca, recebia milhares de baleias anualmente e as colisões com navios eram comuns. Elas eram mortas facilmente, em Niterói e perto da Ilha das Cobras.

Mesmo recentemente, no princípio do século 19, quando o caminho da Corte para Minas Gerais e São Paulo incluía um trecho marítimo entre Sepetiba e Parati, o grande obstáculo na viagem eram as baleias, que, aparentemente por diversão, viravam as embarcações no estreito entre a Ilha Grande e Angra dos Reis, mas não machucavam as pessoas. 

Golfinhos, tubarões, celacantos, peixes-espada, polvos, lulas, lagostas, todos existiram em número e tamanho muito superiores aos de hoje, sem falar nas imensas arraias-jamanta e tartarugas seculares. Quando os navegantes descreviam, emocionados, as "feras" que tinham avistado ou combatido durante suas viagens, o cartógrafo as representavam com ares monstruosos, naturalmente. De que outra forma poderia ser ilustrada, por exemplo, a baleia-azul? Um ser que pesa o equivalente a 30 elefantes (quatro toneladas só de língua!) e mede mais de 30 metros de comprimento. 

Seres abissais (ou quase)

Além disso, descobertas recentes demonstram que algumas espécies marinhas pré-históricas tidas como extintas permaneceram bem vivas e escondidas da Ciência. Em 2005, os cientistas Richard Ellis e John E. McCosker emitiram um alerta à comunidade mundial no sentido de que esses predadores estariam perigosamente "florescendo" nas profundezas insondáveis dos nossos oceanos. 

O Megalodon ou "Dentes Grandes", por exemplo, temível fera com 25 metros de comprimento, sobrevive escondido em profundidades quase abissais. Ninguém pode prever o que acontecerá quando ele for à superfície. Lulas gigantes (com mais de 18 metros) foram fotografadas nas águas profundas ao largo das ilhas Ogasawara, no Pacífico Norte. O tentáculos são compridos e fortes o suficiente para agarrar e fazer afundar a maioria das embarcações leves de pesca ou recreio.

Em 1918, um sobrevivente da pré-história deu sinais de vida em Broughton Island, Austrália, onde os pescadores se recusaram a sair ao mar após testemunharem um ataque em águas profundas de um imenso tubarão de 30 pés (quase 10 metros) de comprimento, com as mandíbulas sobressaindo da sua enorme cabeça. Este episódio real teria inspirado o roteiro do filme "Tubarão".

Bem, a par desses novidades, tenho certeza de que a partir de agora você verá de forma diferente os monstrinhos das cartas náuticas, nem que seja trocando o sorriso por um olhar mais cuidadoso!
Celso Serqueira