VERGONHA É
NÃO CONSEGUIR CARREGAR A proliferação de igrejas no Brasil durante o século 18 deveu-se mais ao contrabando de ouro que à religiosidade do povo.
Templos católicos tão magníficos como os de Ouro Preto e Salvador só existem por intervenção piedosa de um generoso padroeiro: o
"Santo do Pau Oco". Foi pela
graça dele que padres e mineradores consolidaram a mais lucrativa ferramenta de corrupção
nacional: o superfaturamento.
O santo do pau oco era uma escultura sacra em cujo interior eram escondidos ouro e diamantes extraídos de Minas Gerais. Como a fiscalização portuguesa era rigorosa nas minas e nas cidades onde circulavam essas riquezas,
os contrabandistas usavam o recurso de rechear a imagem e transportá-la para locais distantes, burlando a cobrança dos "quintos" (impostos) exigidos por Portugal. Sempre
os empreiteiros Isso a gente aprende na
escola, mas o que os livros não contam é como se fraudava o
controle português para que ouro e diamantes chegassem à estátua oca. Muito simples! Bastava a cumplicidade das autoridades católicas.
Projetava-se uma igreja e davam-se ao fisco informações superestimadas
sobre a quantidade de ouro - isenta de impostos - necessária para a ornamentação dos altares. O metal não utilizado era escondido
na própria obra do templo, de onde depois era contrabandeado, aos poucos, nos santos
do pau oco. Por exemplo, na Igreja de Sant'Ana, em Lavras, MG, foram solicitadas 300 barras de ouro para os detalhes internos, mas foi registrado o uso de apenas 200 (incluída a provável doação ou 'tarifa bancária' para o caixa dois eclesiástico). A diferença de 100 barras foi posteriormente contrabandeada, certamente com a cumplicidade dos padres. Lógico que o negócio interessava à Igreja, não apenas pelos altos lucros auferidos com "doações" de parte desse ouro, como pela própria construção dos templos,
patrocinada pelos mineradores/contrabandistas interessados na tramóia. Por isso certas cidades mineiras e baianas têm tantas e tão ricas igrejas. Por isso as obras de igreja demoravam tanto. Procissões e matracas Havia tanto ouro acumulado nos templos católicos, que nem sempre era fácil tirá-lo sem despertar a atenção dos portugueses. Não dava para levar um santinho (oco, naturalmente) todo dia para viajar. Então, os padres aumentaram o número de procissões, ocasiões em que várias estátuas podiam sair simultaneamente, levando grandes quantidades do metal. Durante o trajeto, em meio à multidão, os contrabandistas se revezavam em carregar as
imagens e disfarçadamente iam retirando o ouro e escondendo-o em embornais. Antes que a procissão chegasse ao fim, já tinham esvaziado os santos
e distribuído o contrabando sem que os portugueses percebessem. Certo dia, entretanto, ao tentar deixar o cortejo, um camarada mais desastrado deixou cair algumas barras de ouro; foi preso e executado pelos soldados da Coroa. Para evitar que isso se repetisse, os padres criaram a matraca, que emite um som estridente semelhante ao de uma metralhadora. Desde então, esse instrumento vem fazendo um barulho infernal em todas as procissões (e abafando eventuais ruídos de barras de ouro caindo ao solo), sob a alegação de ser
o substituto ideal para os pesados sinos nos cortejos religiosos. Pode-se dizer qualquer coisa sobre a Igreja no Brasil colonial,
mas jamais que ela não tenha sido extremamente hábil e inventiva.
Em proveito próprio, naturalmente. (fonte principal: estudo da História de Lavras, de Wagner Gonçalves) Celso Serqueira | |
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