Paraguai, o futuro que destruímos (parte 1 de 4)
Acredite, houve um tempo em que rotular um produto como "paraguaio" era uma
afirmação de sua boa qualidade. O atual país do contrabando, da falsificação e dos veículos roubados já foi uma das nações mais adiantadas do
continente, e sua população tinha um padrão de vida muito superior ao dos povos vizinhos. Tudo bem, pode soltar a gargalhada, eu espero. Pronto? Pois
então saiba que quem destruiu isso tudo e transformou o Paraguai no que é hoje fomos nós, brasileiros. Vamos clarear esta história.
Episódio muito idolatrado no Brasil, a Guerra do Paraguai foi o maior conflito internacional do continente americano, com meio milhão de
mortos em cinco anos de luta sangrenta. Se pudermos analisar os fatos com isenção nacionalista, veremos que a vitória brasileira destruiu o mais
eficiente e importante modelo de desenvolvimento da América do Sul, selou a eterna submissão do continente aos interesses das grandes potências e nos
transformou em eterno Terceiro Mundo.
Em meados do século XIX, o Paraguai era um país diferente dos seus vizinhos por ter alcançado um
razoável progresso econômico, a partir da independência em 1811. Sem recorrer ao capital estrangeiro e, portanto, sem dívida externa, o país
desenvolveu seu próprio parque industrial com estaleiros, siderúrgicas e fábricas de armas, pólvora, tecidos, tintas, instrumentos agrícolas e outros
produtos básicos.
A influência da Igreja Católica tinha sido drasticamente reduzida, havia extensas estradas de ferro e uma eficiente
rede de telegrafia. Não existiam analfabetos nem escravos, as escolas eram gratuitas e as "estâncias da pátria" (terras e ferramentas distribuídos
pelo Estado aos camponeses em troca da metade da produção) forneciam alimentos e empregos para toda a população. Altas tarifas alfandegárias protegiam
os produtos nacionais.
O Paraguai conseguira formar uma forte base de sustentação interna, ignorando o modelo econômico britânico de
submissão e endividamento que dominava a maioria da América. Os ingleses e os dirigentes dos países vizinhos ficavam cada dia mais preocupados: e se a
"moda paraguaia" pegasse?
(continua...)
Celso Serqueira | | |
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