ESTADOS UNIDOS DA BARRA DA TIJUCA
Se o Brasil não tivesse passado para o lado dos Aliados
na Segunda Guerra Mundial, provavelmente o Rio de Janeiro (então distrito federal e capital do país) seria atacado pelos norte-americanos. Será que
nossos militares estavam estrategicamente preparados para a defesa de nosso território?
Provavelmente, não. Pelo menos é o que se deduz ao
observar a planta acima, um documento secreto e de uso exclusivo do exército dos EUA. O documento indica que a parte mais vulnerável do
município, naquele ano de 1941, continuava sendo o litoral sul por onde, em 1710, o corsário francês Jean François Duclerc desembarcou 1.200 homens,
sem encontrar resistência, e atacou a cidade, chegando até a Praça XV, no centro.
Ou seja, 250 anos após a invasão francesa, as praias ao sul
da Barra da Tijuca, principalmente Guaratiba e Sepetiba, continuavam as mais vulneráveis e desprotegidas. Veja no detalhe do mapa as três setas
indicando aquela parte do litoral com a seguinte legenda, traduzida: "Área mais favorável para desembarque, apresentando praias não protegidas por
defesas fixas".
O mapa indica também outros pontos estratégicos a serem considerados pelos americanos na eventualidade de um ataque ao Rio,
como hospitais, prédios militares, fábricas, depósitos de combustíveis, aeroportos, estações marítimas e até a malha viária dos bondes, principal meio
de transporte urbano na época.
Outras curiosidades chamam a atenção, como um projeto de loteamento para a área do Morro de Santo Antônio que,
entretanto, só viria a ser derrubado quase 20 anos depois. A esplanada do Morro do Castelo (este sim, já demolido) é mostrada também como um projeto e
o Aeroporto Santos Dumont, que recebeu a maior parte do aterro retirado do Castelo, ainda é apenas uma marcação retangular na planta.
Difícil de entender é aquele conjunto de quarteirões e avenidas projetado junto ao futuro aeroporto, onde era a ponta do Calabouço, obra que
jamais foi concretizada. Em certos aspectos, o desenho lembra o "Plano Agache", um plano diretor idealizado na década de 1920 e que também
não foi executado, embora algumas de suas indicações sirvam de parâmetro ainda hoje para o urbanismo carioca.
De qualquer forma, se não chegou
a haver o desembarque de tropas dos EUA naquelas bandas pra lá da Barra da Tijuca, nem por isso a invasão americana deixou de acontecer, pois é
justamente nessa região que hoje moram os brasileiros mais "americanizados" do
país, a ponto de terem erigido uma inusitada réplica da Estátua da
Liberdade no bairro. Coincidência ou estratégia, o fato é que em 1941 os americanos já
conheciam o melhor caminho para dominar os cariocas - se não pela força, culturalmente. Celso Serqueira | |
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